quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Em homenagem à vovó Júlia

Quando nós, ainda curumins
nos damos conta do que somos
E do que os outros são para nós
Constatamos que tem alguém
que se vem com tudo que tem
Dá-nos, nada menos, que sua trajetória.
E quando esse mesmo alguém se vai
Leva tudo isso e um tanto mais
Leva-nos junto, embora não defunto
Leva consigo a nossa melhor memória
Senhora de todas as outras
A do riso mais bem rido
A dos pés no chão do jardim mais florido
A do choro mais chuvoso
A do pedaço de bolo mais gostoso
A do toque mais zeloso que acalenta e pretege de fantasmas
No tempero jamais tido
que, embora tentemos
Jamais teremos conseguido chegar lá
Quando esse alguém se vai
Leva pra sempre
Toneladas de histórias
Que sobram nostálgicas
Para póstumas palavras como estas surgirem
E não há mais nada que possa ser feito
Nem o bife acebolado
Nem o bolo perfeito
Nem o feijão queimado que dá certo
Nem um canto nosso no seu leito
Nem a gargalhada engraçada que nos faz cócegas
Nem o andar frágil que imprime heroismo
Nem as lentes tiradas do fundo das garrafas do quintal
Postas em armação qualquer
Nem as anáguas pra gente brincar de ser mulher
Nem as pitombas nos alvos lençois do abril esperado
Nem a gentileza ampliada
Apurada e extraída da humildade de toda uma vida
Nem um dia a mais pra falar da importância desse todo poderoso amor que nos fez como somos ou como queremos ser ou como precisamos ser...
Diga o seu amor enquanto há. Não espere deixar de haver.
Eu disse o meu inúmeras vezes
E daria tudo pra dizer mais.
(carolina uchoa)

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