Escolhi a última barraca pela quantidade de mesas vazias, apenas duas estão ocupadas. Uma família com crianças alegres e bem comportadas ocupa uma. Na outra, um rapaz solitário bebe sua cerveja vestido de branco e um curioso chapéu panamá.
Sentei na mesa mais isolada. Bem próxima das ondas, buscando me sentir única ali.
Cá estou eu com meus miolos aflitos, tentando um minuto de solidão de frente para o mar, numa tentativa de refúgio defronte à maré,  até que ...Ops! Me chega um japonês esguio e esquisito, simpático, mas esquisito: - Ôla , eu poder senta com ti?.  Com um sorriso sem tempero e desarmado, tal o desespero, o coitado se balança: direita, esquerda, direita, esquerda. Com a cabeça inquieta, olhos fechadinhos e boca aberta, ele me olha, ainda sorrindo. Respondo um certo tempo depois - como boa observadora jamais poderia perder essa oportunidade - , com destreza e um inevitável sorriso: - Não, desculpa, digo, muito obrigada, mas é que, prefiro ficar só, tudo bem? Pausa. - Você entende? Conclui. Ele então fez sinal que sim e se foi, afinal. Que bom. Não sei, nem nunca vou saber qual o motivo da sua solidão aqui, porém a minha, sei que foi opcional. Desgustada, primorosamente curtida e saboreada gole a gole junto com esta cerveja - a segunda - que  tenho à mesa. As nuvéns vermelhas que o vento leva, passam sobre minha cabeça tão rápido quando meus pensamentos. Essa cena, por exemplo, o japa não viu. Quantas vezes na semana paramos pra olhar pro céu ou qualquer coisa contemplativa parecida? Vou embora pra casa com a sensação de que, a melhor companhia que eu poderia ter hoje, era mesmo a minha.
(carolina uchoa)

(Re)começo

Alegres meninos e meninas brincam na praia e correm pra ver o mar. Contemplo a cena com poesia, converso com iemanjá, faço versos, bebo um gole que me lubrifica inteira. Passa o siri, passa o luar, passa o garçon com sua simpatia. Só não passa meu penar e essa saudade devastadora da tua companhia, do teu silêncio sensato, das palavras insensatas.As ondas vêm e lavam a areia, numa incrível sinonia harmônica, como que para me mostrar que enfim, tudo pode recomeçar. Mais um gole.
(carolina uchoa)

Inverno em mim

todas as folhas estão no chão 

                                    é outono no meu verão

ah, quem me dera
  amanhecer primavera.

(carolina uchoa)

vai
volta
vai
volta
mas deixa a porta aberta
pra quem quiser entrar
quando tu não mais voltar
(carolina uchoa)

Sinais de fogo

Bate em mim uma vontade de ti que
Entra e sai, entra e sai, gostoso.
(carolina uchoa)

quero te ver

pintada de ouro,

espero.

(carolina uchoa)

Será???

Se a dúvida for mesmo o princípio da sabedoria, como afirma Aristóteles, então vamos considerar que eu sou a pessoa mais sábia do universo :).
Questionamentos me tormentam tanto, que mesmo em face do maior encanto, eu me derreto em perguntas vãs para o momento. Então tá.
(carolina uchoa)

"Arrasta-te bela senhora
     Sacia a sede que por dentro te devora
           Mostra teu senso de humor
               Não ria muito
                       Somenta arrasta-te..."  -  neuber uchôa

Quarto qualquer

         Noite acesa pela janela

          De um quarto qualquer

De lado

De costas
De frente

Nua pra ti

            Como a lua pra gente

da sela vasto
do pasto parto
pro absurdo
e me basto
longe de curral
perto de tudo

feito cavalo no cio
abro caminho
e me mudo
(carolina uchoa)

Nordeste quente da peste!

Sol que me adentra em pranto

Deixa minha cabeça em paz e

Beija meu corpo santo

Quero pensar em lilaz e

Brilhar em preto e branco
(carolina uchoa)

Só H

muita rima       
            pouca base
     quase toda
                   fina frase   
         nada ensina

Acorda, Alice!

Se me vês assim tão cálida
Acorda, Alice!
Despe-te da vaidade pálida
Que te faz ridículo

Três Passos

1
   2
3

Manuel de Barros, sempre!

"Do lugar onde eu estou já fui embora"

Pegada

A areia de ilude
                      ao achar
Que pinta pra sempre
Quem nela pisar

(carolina uchoa)